Antonio Negri: o camaleão do marxismo à italiana - II

[Extractos da entrevista de António Guerreiro a Antonio Negri na revista Actual do «Expresso» de ontem; os itálicos são meus] «[...] «Império» [...] que já foi classificada como uma reescrita do Manifesto do Partido Comunista para o século XXI, tornou-se um objecto privilegiado de crítica e apropriação [...]». «[...] (a tese desenvolvida na obra «Império»:) a ordem contemporânea do mundo é determinada por uma transferência de soberania dos Estados-nação para uma identidade superior que é o Império (descentrado, desterritorializado, configuração última da dinâmica globalizada do capitalismo) [...]». «[...] (a propósito de um outro livro de Michael Hardt, «Multidão - Guerra e Democracia na Era do Império»:) O conceito de multidão designa um sujeito político que emerge na situação contemporânea. A multidão conduz uma acção política de resistência ao Império e de expansão da democracia [...]». «[...] Havia um processo no sentido da recomposição mundial e de discussão da soberania imperialista que foi violentamente quebrado pela Administração Bush. Ora, tudo isto confirmou que essa ordem mundial estava a reconstruir-se e a procurar uma legitimidade. Uma ordem nunca é algo de espontâneo. O mercado nunca determinou as suas próprias normas, é necessário um poder para determinar uma linha de legitimidade [...]». «[...] (Sobre os tumultos de Paris:) Eu consideraria esses movimentos como uma expressão dos novos movimentos da multidão, da passagem da cidade do trabalho assalariado para os territórios urbanos marcados pela flexibilidade, pela mobilidade e mestiçagem das culturas [...] Se há algo que aí se está a reconstruir é o sentimento do comum, da singularidade [...]». «[...] Não tenho problemas com as minhas dívidas em relação ao marxismo. Acho que sou um marxista que constrói um novo horizonte e que precede à demolição da ortodoxia para construir outra coisa. Mas o problema, para mim, é outro: o conceito de multidão é ainda insuficiente [...] O que é a multidão na metrópole? O que é a multidão no desenvolvimento social, no tempo das transformações sociais? [...]». «[...] Venho de uma tradição «operaista» [...] uma tradição de recusa do trabalho. O que significa recusar o trabalho? Sabotagem, luta de massas contra o trabalho, contra o tempo do trabalho [...]». «[...] Não há possibilidade de sair do valor da troca, a não ser através da resistência [...]». «[...] (Pergunta:) Você seguiu uma linha contínua do «operaismo» até ao «Império» ... (Resposta:) Sim, e ela corresponde a uma renovação do marxismo. A força do marxismo é formidável... [...]». Certas entrevistas valem por mil posts. E estas passagens falam por si. Os tempos que se avizinham não vão ser nada fáceis. Rodrigo Adão da Fonseca

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